A experiência da invaginação a partir da obra Slogan for the 21st Century, de DOUGLAS COUPLAND.
Por Leandro Bessa
Abro uma
nova página na internet, logo tenho dez, quinze, vinte abas abertas
simultaneamente. Sem contar as diversas vezes que interrompo a minha pesquisa
inicial, que já nem me lembro exatamente qual era, só para espiar a timeline do facebook e, responder os
chamados do celular via app’s, dos mais diversos possíveis.
Ainda, sou
atropelado pelo sentimento de proximidade, esse sentimento confundido diversas
vezes por saudade. A angústia em não estar do lado da pessoa que amo. Também
analisado como, vazio, cavado pelas novas tecnologias e ampliado pelas
distâncias geográficas. Fruto do mundo dito globalizado.
No vão dessa
tormenta, a arte contemporânea escancara seus espelhos para nossas frágeis e
débeis atitudes cotidianas, consideradas egoisticamente grandiosas e
progressistas. Ora, a força das coisas é irreprimível e, em determinados
momentos, é inútil lutar contra a lenta subida da maré. Não há como fugir ou
lutar contra o rio, o fluxo, que nos
empurra e nos ajusta, nos configura para a ordem e a lógica do presente. Inútil
fugir.
Essa força que, aparentemente nos
impulsiona para fora de nós mesmos, faz, na verdade, o sentido contrário. Isso
que o sociólogo francês Michel Maffesoli chamou de invaginação dos sentidos. Seria algo como um regresso, um retorno ao ventre, ao sensível, um tempo de parada, de certa forma. Assim,
para essa lógica do regresso está a
obra Slogan for the 21st Century, do
artista canadense DOUGLAS COUPLAND.
A obra encontra-se na exposição “Ciclo:
Criar com o que temos | 2a edição” do CCBB de Brasília. Frases como:
Todos estão se sentindo como você agora, compartilhar
equivale a posse para perdedores e confundir
caos com liberdade é embaraçoso. Apresenta um conjunto de aforismos ideais
para nossa atualidade. Cada frase produz um efeito de invaginação, de pausa, de tempo para se questionar.
A arte contemporâneo não é, de forma
alguma, de fácil digestão, tampouco decorativa ou, para ser mais radical,
contemplativa. Não demoramos muito tempo frente a um objeto de arte
contemporânea. Tenho feito essa observação durante as últimas visitas às
galerias de arte. O público passa rapidamente, não se preocupa com o texto que
acompanha a obra, um comentário banal ali, uma expressão como: “Nossa são
palitos de dente?!!!” ou, “Hummm, gostei”, ou ainda, “não gostei”. E tudo se
passa tal como num entretenimento. Enquanto que, a própria obra zomba dos
passantes. Silenciosa, ela fala de mim, imita você, debocha de todos nós, bem
como, da nossa atualidade. Critica nossas escolhas e hábitos, ridiculariza
nosso modo banal de existir.
Esta pausa que fiz, nesta tarde de sábado,
diante da obra de DOUGLAS COUPLAND, provocou em mim, essa chamada invaginação dos sentidos, por
“harmonizar-se com os ritmos, quase fisiológicos, da existências. Ritmos que
expressam um sensibilidade viseral: sono-vigília,
digestão-apetite...”.
Desta experiência com a exposição,
ruminaram todas as questões ligadas aos excessos, angústias e sentimento de
vazio que tenho vivenciado, não por serem sentimentos exclusivos, mas por
pertencerem ao tempo que vivo, esse tempo que habito. Que tempo é esse?
“A onipresença dos computadores à nossa
volta, o estabelecimento definitivo da internet, os avanços da biotecnologia e
as promessas da nano, as inovações tecnológicas de toda sorte já ultrapassaram
infinitamente os limites dos laboratórios científicos e hoje fazem parte do
cotidiano [...] campo fértil para as experiências artísticas” (Arlindo Machado
in. Arte Mídia.).